Aumento do diesel, inflação subindo, disrupção contínua em fluxos de produtos no mundo inteiro, falta de “braço” em segmentos-chave em supply chain em diversos países. 2021 não tem sido um ano fácil para quem administra logística e o fluxo ordenado de seus produtos. Por outro lado, foi um período com alta atividade em tecnologia em companhias cuja missão é resolver as principais dores do segmento logístico.
Olhando para frente, acredito que 2022 será definido por várias tendências que guiaram o setor neste ano e outras novas terão destaque. O conjunto dessas tendências levará ao maior uso de tecnologia e inovação na gestão de logística; e a consolidação do setor provavelmente será acompanhada pela convergência entre modelos diferentes.
A pandemia desencadeou a aceleração tecnológica. Conforme uma pesquisa da Gartner, mudanças importantes nos modelos de negócios dispararam a automação nos centros de distribuição e atendimento no último ano. O grande desafio é que os profissionais aprendam a interpretar a enorme quantidade de dados e análises geradas pelos sistemas e consigam tomar melhores decisões em suas funções.
Lembrando que os esforços do setor acompanharão algumas das mais urgentes demandas globais. A pesquisa aponta ainda que as empresas estão cada vez mais comprometidas com aspectos sustentáveis para reduzir os impactos ambientais para o cliente. A otimização da rede logística para retirar veículos das ruas e reduzir a emissão de carbono, a reutilização do calor dos processos de manufatura upstream para fornecer energia aos elos downstream e soluções criativas para aumentar a densidade do transporte são alguns exemplos.
A disrupção em supply chain e fluxos de produtos
Os efeitos da economia “start/stop”, oriunda da pandemia, foram profundos e levarão tempo para se dissiparem. Existem engarrafamentos estruturais em pontos-chaves da cadeia em vários países, sobretudo nos EUA, que persistirão pelos próximos meses. Isso terá um efeito inflacionário, obrigando os gestores a rever a forma como movimentam produtos e a refletir sobre a metodologia usada para administrar os seus negócios. Com o tempo, os ajustes serão completos e a normalidade voltará. Mas vai demorar.
Custos elevados
Os principais insumos na cadeia logística vêm subindo e isso continuará. Em alguns países, não existe mão-de-obra para transporte rodoviário e nos portos. No Brasil, estamos com o diesel mais caro, inflação na mão-de-obra e custo de capital elevado. Tudo isso representa uma tendência inflacionária e exigirá maior foco em eficiência operacional em todos os níveis do supply chain.
Investimentos elevados em tecnologia
A pressão dos custos, a necessidade de aumentar a visibilidade numa cadeia mais estressada e a escassez de pessoas qualificadas no setor levarão ao aumento dos investimentos em tecnologia. O objetivo será o de ampliar a eficiência dos processos, a automação e a rastreabilidade das cargas, além de gerar maior transparência e segurança. Também serão acelerados os investimentos em tecnologias mais avançadas, como caminhões autônomos e uso do blockchain na logística. Nesse cenário, plataformas independentes que criarem novas soluções para o setor focadas nessas tecnologias continuarão se beneficiando.
Consolidação
As mesmas pressões incentivarão a consolidação de várias camadas do ecossistema da logística. A exemplo do digital freight brokerage que, em português, significa um corretor de frete digital, e outras plataformas, em 2021, vimos casos de M&A’s nos quais o foco era ganhar escala com ofertas de tecnologia e propostas complementares, como a compra da Transplace pela Uber Freight. Em 2022, plataformas e outros players do setor tendem a continuar sua consolidação em mercados ainda pulverizados.
Plataformas terão que ir “além do match”
Em paralelo, plataformas existentes terão de expandir portfólios de soluções e inovar para poder atender às demandas cada vez mais exigentes dos seus parceiros — soluções completas que tragam eficiência, transparência e insights ponto a ponto. Já começamos a ver isso em 2021, com plataformas adquirindo empresas com tecnologias que ampliam o portfólio de soluções que elas poderiam oferecer a embarcadores. A Loadsmart, por exemplo, investiu em empresas de agendamento e gestão de pátio. Por outro lado, plataformas com soluções mais rasas, focadas em apenas um pedaço da jornada — publicar cargas ou fazer o match entre carga e caminhoneiros — tendem a perder espaço.
Convergência entre modelos
Também esperamos ver a convergência contínua entre os modelos operacionais. Estimamos que plataformas tecnológicas nascidas como fornecedoras de tecnologia comecem a operar fretes que agreguem mais valor aos clientes. Vimos isso acontecer com a Convoy e continuaremos vendo plataformas com DNA de tecnologia e operações se abrindo para que outros operadores do setor usem a tecnologia para ganhar escala. Em segmentos como o digital freight brokerage, modelos de oferta de tecnologia não conseguem resolver as dores dos clientes. Portanto, esperamos a convergência contínua entre modelos. As plataformas terão que entregar cada vez mais experiências com tecnologia robusta que garanta desempenho operacional.
Regulação e fiscalização no setor de logística rodoviária no Brasil
A entrada do DTE (Documento Eletrônico de Transporte) e o aumento da fiscalização sobre o uso de carta frete, não pagamento de vale pedágio, recolhimento de INSS de caminhoneiro e outros, terão impactos positivos para os caminhoneiros. Porém, exigirão grandes ajustes por parte das transportadoras que operam fora da lei agora. Para elas, os custos e a demanda de capital de giro vão aumentar. Isso fará com que precisem buscar eficiência através de um maior uso de tecnologia para compensar. Por outro lado, o DTE e as propostas do governo de abrir informações para a cadeia permitirão inovações importantes com relação à oferta de serviços financeiros e outros
para o caminhoneiro.
2022 deverá ser outro ano de volatilidade no setor, com um ambiente operacional extremamente complexo no mundo inteiro e aqui no Brasil também. Acreditamos que esses desafios serão superados ao longo do tempo com o uso de tecnologias que atacam as principais dores dos clientes e que plataformas atuantes no setor deverão ser cada vez mais inovadoras para agregar valor às operações dos seus parceiros.
* Charlie Conner é CEO da Tmov, logtech líder no setor de transporte rodoviário de cargas e principal marketplace de oferta e demanda de cargas para o agronegócio no Brasil. Conner foi co-fundador e co-head da operação da Arlon Group, fundo de private equity norte-americano, no Brasil. Possui MBA, CFA e um Fulbright Fellow em economia.